sábado, 2 de junho de 2012

Pensam sobre mim, logo existo




Pensam sobre mim, logo existo

Você Já parou para imaginar quanto tempo dura a gestação de uma criança? Quanto à concepção biológica é consenso que a mesma ocorre em torno de nove meses, o ponto é: e a gestação psíquica? Parafraseando Descartes ao intitular o atual texto, me permito o seguinte questionamento: a partir de que momento aquela vida que acaba de inspirar oxigênio pela primeira vez começou a ser gerada?
Duas situações me vêm remotamente à cabeça, a primeira diz respeito às primeiras brincadeiras da criança com bonecos, onde, muitas vezes, aquele bebê imaginário com quem ela interage diz respeito na verdade a uma projeção pura dela mesma, não se apresentando desta forma como um objeto tão separado assim de si mesma.
A segunda situação é aquela a qual após ter seu desejo contrariado, a criança questiona a educação recebida dos pais e pensa: “quando eu tiver meu filho vai ser diferente” ou “se eu fosse um pai/mãe não faria assim”.
Outras circunstâncias além das descritas vão caracterizando a idealização de uma vida a porvir; os futuros genitores vão enxertando aos poucos seus anseios não realizados, ou que sonhariam em realizar um dia, conjecturando a máxima de que “com meus filhos será diferente” (fica a dica pra quem se interessar pelo tema a pesquisa sobre Identificação Projetiva de Melanie Klein que posteriormente também foi descrita por Wilfred Bion).  
É obvio que esse movimento também é necessário e constituirá o (me permitam  este termo tosco) “enxoval psicológico” da criança que irá nascer, é através dele que os pais dirigem não somente suas aspirações, como também o amor que tiram de si e colocam sobre seu futuro tutelado.
Embora inúmeras vezes nos flagremos refletindo a respeito de nosso futuro e tecendo vários projetos, não nos damos conta que estes e muitos outros já existiam mesmo antes de nascermos, ainda que não fossem declarados. No final das contas, como já disseram outros, “nos tornamos uma mistura do que pensam que somos, do que pensamos ser e do que realmente somos”.
As expectativas em torno do contexto social, sob aquela determinada família, aquele casal, e aquela pessoa que acabou de nascer, possuem grande relevância embora em minha opinião não seja determinante sobre nosso futuro.
Imagine a quantidade de expectativas a qual estamos fadados a cumprir, ou até mesmo a quantidade de frustração a qual seremos submetidos por conquistar um mínimo de saudável individuação dos desejos de nossos pais, trilhar os “nossos próprios” anseios, e, socialmente, suscitá-los ao nosso redor e ser exigido pelos projetos de nossos pares...
 Ainda assim, a sucessão deste processo permite a concepção de cada criança e o investimento dos pais, estes são os primeiros a pensar sobre nós, a fabular nossa existência.




Diego Francisco Lima 
CRP-02/15791


4 comentários:

  1. O tema é bastante pertinente e será sempre atual. Gostei muito Diego, continue, seu potencial é de instigador da mente humana.
    Abraço,

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  2. Obrigado "Heliana", me sinto muito feliz quando os elogios são originados das pessoas que admiro!!

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  3. Mais uma excelente contribuição, Diego. A compreensão do sujeito visto por olhos apurados e sensíveis faz toda a diferença. Parabéns! Gosto tb do que diz Lacan, na sua inversão do cogito cartesiano, ao sinalizar: "Eu penso onde não sou. Eu sou onde não penso" :)

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  4. Sem dúvidas, a inversão do cogito feita por Lacan denuncia nossa fantasia do autocontrole e a interferência do Ics em nós.

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