Pensam sobre mim,
logo existo
Você Já parou para imaginar quanto
tempo dura a gestação de uma criança? Quanto à concepção biológica é consenso
que a mesma ocorre em torno de nove meses, o ponto é: e a gestação psíquica?
Parafraseando Descartes ao intitular o atual texto, me permito o seguinte
questionamento: a partir de que momento aquela vida que acaba de inspirar oxigênio
pela primeira vez começou a ser gerada?
Duas situações me vêm remotamente à
cabeça, a primeira diz respeito às primeiras brincadeiras da criança com
bonecos, onde, muitas vezes, aquele bebê imaginário com quem ela interage diz
respeito na verdade a uma projeção pura dela mesma, não se apresentando desta
forma como um objeto tão separado assim de si
mesma.
A segunda situação é aquela a qual após
ter seu desejo contrariado, a criança questiona a educação recebida dos pais e
pensa: “quando eu tiver meu filho vai ser diferente” ou “se eu fosse um pai/mãe
não faria assim”.
Outras circunstâncias além das descritas
vão caracterizando a idealização de uma vida a porvir; os futuros genitores vão
enxertando aos poucos seus anseios não realizados, ou que sonhariam em realizar
um dia, conjecturando a máxima de que “com meus filhos será diferente” (fica a
dica pra quem se interessar pelo tema a pesquisa sobre Identificação Projetiva de Melanie Klein que posteriormente também
foi descrita por Wilfred Bion).
É obvio que esse movimento também é
necessário e constituirá o (me permitam este termo tosco) “enxoval psicológico” da
criança que irá nascer, é através dele que os pais dirigem não somente suas
aspirações, como também o amor que tiram de si e colocam sobre seu futuro
tutelado.
Embora inúmeras vezes nos flagremos
refletindo a respeito de nosso futuro e tecendo vários projetos, não nos damos
conta que estes e muitos outros já existiam mesmo antes de nascermos, ainda que
não fossem declarados. No final das contas, como já disseram outros, “nos
tornamos uma mistura do que pensam que somos, do que pensamos ser e do que
realmente somos”.
As expectativas em torno do contexto
social, sob aquela determinada família, aquele casal, e aquela pessoa que
acabou de nascer, possuem grande relevância – embora em minha opinião não seja determinante
– sobre
nosso futuro.
Imagine a quantidade de expectativas a
qual estamos fadados a cumprir, ou até mesmo a quantidade de frustração a qual
seremos submetidos por conquistar um mínimo de saudável individuação dos
desejos de nossos pais, trilhar os “nossos próprios” anseios, e, socialmente,
suscitá-los ao nosso redor e ser exigido pelos projetos de nossos pares...
Ainda assim, a sucessão deste processo permite
a concepção de cada criança e o investimento dos pais, estes são os primeiros a
pensar sobre nós, a fabular nossa existência.
Diego Francisco Lima
CRP-02/15791
O tema é bastante pertinente e será sempre atual. Gostei muito Diego, continue, seu potencial é de instigador da mente humana.
ResponderExcluirAbraço,
Obrigado "Heliana", me sinto muito feliz quando os elogios são originados das pessoas que admiro!!
ResponderExcluirMais uma excelente contribuição, Diego. A compreensão do sujeito visto por olhos apurados e sensíveis faz toda a diferença. Parabéns! Gosto tb do que diz Lacan, na sua inversão do cogito cartesiano, ao sinalizar: "Eu penso onde não sou. Eu sou onde não penso" :)
ResponderExcluirSem dúvidas, a inversão do cogito feita por Lacan denuncia nossa fantasia do autocontrole e a interferência do Ics em nós.
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