sábado, 9 de junho de 2012

Aproveite o dia






Aproveite o dia

Segunda-feira pela manhã (7h, 06h ou até mesmo 05h) levantar da cama, sair de casa, transitar entre as ruas de nossas cidades, seja individualmente ou de forma coletiva, adentrar ao ambiente de trabalho e reencontrar os habituais companheiros de labuta.
Calma, não estou descrevendo nenhum cenário de filme de terror.
Apesar de atualmente padecermos de Síndromes como a de Burnout distúrbio psíquico de caráter depressivo precedido de esgotamento físico e mental intenso; presenciamos alguns profissionais com elevado estado de tensão emocional e altamente estressados por seu trabalho lhes imputar desgaste físico, emocional e psicológico, através da alta exigência e, é verdade já inventaram, a Síndrome do domingo à noite para quem sente tristeza, angústia, desânimo e irritabilidade no domingo à noite(e eu jurava que era culpa do Faustão), com forte sofrimento  de retomar a rotina na segunda, apesar de aparentar insatisfação apenas na vida profissional, em nível existencial, também reflete-se uma insatisfação maior.
As duas situações citadas acima dizem respeito à falta de prazer no trabalho e desmotivação. O trabalho tornou-se apenas uma fonte de sobrevivência ao invés de refletir nossa própria identidade, pois, em sua essência, o trabalho deveria dizer respeito à identidade pessoal.
Torna-se impossível não relacionar o que vivenciamos em relação ao desprazer associado ao trabalho sem atribuir tal condição a um modo de produção alienado, a sociedade em que vivemos separou o trabalhador do fruto de seu serviço (atualmente dificilmente nos identificamos com o que produzimos no trabalho, muitas vezes o sentido é até mesmo oposto), experimentamos uma realidade negada.
Ao nos questionarmos, o que geralmente obtemos como resposta é um universo de aparatos tecnológicos que tem por objetivo nos guiar a um mundo cada vez mais confortável que nos conduz ao impossível.
 As revoluções tecnológicas prometiam a diminuição de nossa jornada de trabalho e a promoção do conforto ao ser humano, muito disso ainda nos é prometido e esvaziamos a cada dia nossas relações interpessoais, toda essa tecnologia que ganhamos em troca de muito trabalho nos distancia cada vez mais de nosso tradicional, e ainda estupendamente mais agradável contato físico.
Tomara que em meio a esse caos possamos um dia retomar aos poucos e torçamos para que não seja através de uma overdose de parafernálias tecnológicas um rumo para nossos desencontros pessoais e profissionais.
Carpe Diem foi transformado popularmente do latim para o português em “aproveite o dia”, tal expressão foi tirada de um poema de Homero, nele significa literalmente: “Colhe o dia presente e sê o menos confiante possível no futuro”. Tais palavras não remetem pura e simplesmente a um culto ao hedonismo, nos mandam um recado a desfrutar os minuciosos e simplórios prazeres de nosso cotidiano, infelizmente no presente eles se encontram sufocados frente ao desprazer ao qual nos deparamos em nosso dia-a-dia e quando não percebemos o quão magnífico e complexo é despertar a cada dia.

sábado, 2 de junho de 2012

Pensam sobre mim, logo existo




Pensam sobre mim, logo existo

Você Já parou para imaginar quanto tempo dura a gestação de uma criança? Quanto à concepção biológica é consenso que a mesma ocorre em torno de nove meses, o ponto é: e a gestação psíquica? Parafraseando Descartes ao intitular o atual texto, me permito o seguinte questionamento: a partir de que momento aquela vida que acaba de inspirar oxigênio pela primeira vez começou a ser gerada?
Duas situações me vêm remotamente à cabeça, a primeira diz respeito às primeiras brincadeiras da criança com bonecos, onde, muitas vezes, aquele bebê imaginário com quem ela interage diz respeito na verdade a uma projeção pura dela mesma, não se apresentando desta forma como um objeto tão separado assim de si mesma.
A segunda situação é aquela a qual após ter seu desejo contrariado, a criança questiona a educação recebida dos pais e pensa: “quando eu tiver meu filho vai ser diferente” ou “se eu fosse um pai/mãe não faria assim”.
Outras circunstâncias além das descritas vão caracterizando a idealização de uma vida a porvir; os futuros genitores vão enxertando aos poucos seus anseios não realizados, ou que sonhariam em realizar um dia, conjecturando a máxima de que “com meus filhos será diferente” (fica a dica pra quem se interessar pelo tema a pesquisa sobre Identificação Projetiva de Melanie Klein que posteriormente também foi descrita por Wilfred Bion).  
É obvio que esse movimento também é necessário e constituirá o (me permitam  este termo tosco) “enxoval psicológico” da criança que irá nascer, é através dele que os pais dirigem não somente suas aspirações, como também o amor que tiram de si e colocam sobre seu futuro tutelado.
Embora inúmeras vezes nos flagremos refletindo a respeito de nosso futuro e tecendo vários projetos, não nos damos conta que estes e muitos outros já existiam mesmo antes de nascermos, ainda que não fossem declarados. No final das contas, como já disseram outros, “nos tornamos uma mistura do que pensam que somos, do que pensamos ser e do que realmente somos”.
As expectativas em torno do contexto social, sob aquela determinada família, aquele casal, e aquela pessoa que acabou de nascer, possuem grande relevância embora em minha opinião não seja determinante sobre nosso futuro.
Imagine a quantidade de expectativas a qual estamos fadados a cumprir, ou até mesmo a quantidade de frustração a qual seremos submetidos por conquistar um mínimo de saudável individuação dos desejos de nossos pais, trilhar os “nossos próprios” anseios, e, socialmente, suscitá-los ao nosso redor e ser exigido pelos projetos de nossos pares...
 Ainda assim, a sucessão deste processo permite a concepção de cada criança e o investimento dos pais, estes são os primeiros a pensar sobre nós, a fabular nossa existência.




Diego Francisco Lima 
CRP-02/15791